Doentes com Esquizofrenia que Frequentaram o Regime de Internamento Parcial de Psiquiatria no Centro Hospitalar do Médio Tejo: Um Estudo Descritivo
DOI:
https://doi.org/10.51338/rppsm.470Palavras-chave:
Esquizofrenia, Hospital de Dia, Psicofarmacologia, Reabilitação Psiquiátrica, Serviços de Saúde MentalResumo
Introdução: Pretende‑se avaliar uma série clínica de doentes com esquizofrenia que frequentaram o regime de Internamento Parcial, de forma a perceber quais os desafios que estes nos colocam relativamente ao seu tratamento, prevenção de recaídas e reinserção social.Métodos: Foi analisada uma coorte de doentes com esquizofrenia, que frequentaram o regime de Internamento Parcial de um Departamento de Psiquiatria, entre 2016 e 2020. Foram extraídos dados relativos à caracterização sociodemográfica, frequência do internamento parcial, tratamento farmacológico, comorbilidades, reinternamentos em enfermaria de agudos, respostas sociais pós‑alta e presença de sintomas psicóticos.
Resultados: Trinta e três doentes foram incluídos, sendo a maioria do sexo masculino (66,67%), com idade média de 35,09 anos, maioritariamente provenientes do concelho de Tomar (51,52%) e a residir com os pais e/ou irmãos (75,76%). Do total, 42,42% encontravam‑se inicialmente desempregados. Os doentes frequentaram o internamento parcial em média durante 68,71 meses. Relativamente ao tratamento farmacológico, a clozapina consolidou‑se como o antipsicótico oral mais frequente e a paliperidona como o antipsicótico injetável mais frequente. O número médio de medicação antipsicótica por doente aumentou ao longo do tempo, acompanhado por um aumento significativo na medicação antipsicótica injetável e uma ligeira diminuição no número de antipsicóticos orais. Constata‑se também uma diminuição na utilização de benzodiazepinas, porém mantendo‑se elevada a utilização de fármacos para tratar sintomas extrapiramidais e depressivos. A comorbilidade médica mais frequente após a alta é o excesso de peso/obesidade em 30,3% dos casos. Os internamentos em enfermaria de agudos desceram significativamente. Relativamente às respostas sociais pós‑alta, o desemprego diminuiu significativamente; os empregos protegidos e as reformas por invalidez aumentaram significativamente. Relativamente aos sintomas psicóticos, o número de doentes com sintomas negativos e cognitivos permaneceu elevado até à alta do programa.
Conclusão: O regime de internamento parcial parece traduzir‑se a longo prazo num menor número de reinternamentos em enfermaria de agudos, contribuindo também para melhorar a reinserção social dos doentes. No entanto, a estabilidade é alcançada sobretudo através da utilização de uma alta dose cumulativa de medicação antipsicótica. Estes doentes apresentam comorbilidades médicas importantes e um aumento progressivo da polifarmácia ao longo dos anos, mostrando‑nos que ainda temos um longo caminho a percorrer no que diz respeito ao tratamento das pessoas com esquizofrenia.
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