Psicoterapia Assistida por MDMA: um Novo Paradigma no Tratamento da Perturbação de Stress Pós‐Traumático Resistente?
DOI:
https://doi.org/10.51338/rppsm.327Palavras-chave:
Alucinogénios, N‐Metil‐3,4‐Metilenodioxianfetamina, Perturbação de Stress Pós‐Traumático, PsicoterapiaResumo
A perturbação de stress pós‐traumático (PSPT) é uma doença psiquiátrica comum, geralmente crónica, com severas implicações na qualidade de vida da pessoa afetada e da sua família, e que tem vindo a apresentar um crescente reconhecimento enquanto problema de Saúde Pública. Nas últimas duas décadas, estudos clínicos com 3,4‐metilenodioximetanfetamina (MDMA) têm vindo a demonstrar o seu papel promissor enquanto potencializador psicoterapêutico em doentes com PSPT, tendo a psicoterapia assistida por MDMA inclusivamente recebido em 2017 a designação de breakthrough therapy.
Estes estudos têm vindo a ser replicados em vários locais do mundo, segundo estritos protocolos, estando atualmente a
sua aprovação para uso clínico prevista para 2023. Em maio de 2021, foram publicados os primeiros resultados de estudos de fase III, nos quais os participantes que receberam psicoterapia assistida por MDMA experienciaram uma redução significativa e duradoura nos sintomas de PSPT. Os efeitos pró‐sociais e interpessoais agudos do MDMA têm demonstrado melhorar significativamente a qualidade da aliança terapêutica, potenciando a adesão ao tratamento da PSPT e o seu outcome. Os clínicos sugerem que o MDMA pode catalisar o processamento terapêutico, permitindo que os pacientes permaneçam emocionalmente envolvidos enquanto revisitam experiências traumáticas sem se tornarem oprimidos.
Tendo em conta a prevalência da PSPT e as limitações encontradas com os tratamentos atualmente disponíveis, foi realizada uma revisão narrativa da literatura com o objetivo de examinar a utilização da psicoterapia assistida por MDMA na perturbação de stress pós‐traumático, apresentando uma contextualização histórica desta molécula, os seus potenciais efeitos nos diferentes sintomas desta patologia e identificando áreas prioritárias para intervenção e investigações futuras.
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